Quatro grandes corredores vão conectar paisagens naturais no país. Meta é chegar a 18 mil km e movimentar 2 milhões de pessoas por ano
Por Danúbia Melo,
O Sistema Brasileiro de Trilhas de Longo Curso prevê, inicialmente, quatro grandes corredores. O Corredor Litorâneo, que ligará o Oiapoque ao Chuí; a Trilha Missão Cruls, que ligará a cidade de Goiás Velho até a Chapada dos Veadeiros; Caminhos do Peabiru, que ligará o Parque Nacional do Iguaçu ao litoral paranaense e a Estrada Real, atualmente percorrida por carros e bicicletas, ganhará também um percurso para os caminhantes.
O traçado dos caminhos que compõem a rede de trilhas não é definitivo. Estão abertos para alterações que se fizerem necessárias ao longo da implementação que é naturalmente lenta por depender do envolvimento de diferentes esferas de governo, proprietários privados e a comunidade em geral.
IMPLEMENTAÇÃO
A implementação começa pelas unidades de conservação, de todas esferas de governo (federal, estadual e municipal). A trilha é construída já com um planejamento de ligação dos pontos inicial e final com outras UCs da região. O ponto de entrada aponta para a unidade anterior e o ponto de saída aponta para a próxima unidade.
O percurso que liga duas unidades é a chamada “linha tracejada”. As experiências anteriores tanto em outros países quanto no Brasil mostram que existe um movimento natural de pressão dos caminhantes para que as “linhas tracejadas” sejam também implementadas e sinalizadas. Para os proprietários de terras por onde passa essa linha surge uma oportunidade de transformar a área em reserva legal ou área de preservação permanente e ainda gerar renda oferecendo serviços como camping e alimentação para os visitantes.
Sabe-se que poucos são os caminhantes que completam um percurso tão longo de trilhas como o Corredor Litorâneo, com mais de 8 mil quilômetros. Nesse sentido as trilhas são planejadas para serem percorridas em etapas - caminhos menores que fazem parte de um grande percurso.
Exemplos são a Trilha Transcarioca, que passa pelo Parque Nacional da Tijuca (RJ) e os Caminhos da Serra do Mar, que passam pelo Parque Nacional da Serra dos Órgãos (RJ); ambas fazem parte do Corredor Litorâneo, estão sinalizadas e já são percorridas pelos caminhantes.
Além de ter a conveniência para o visitante de poder percorrer um caminho inteiro durante um período de férias, essa estratégia traz também um sentimento de pertencimento regional e incentiva o protagonismo dos envolvidos locais para cuidar da sua trilha.
SINALIZAÇÃO PADRONIZADA
A pegada amarela sob uma base preta, ou o contrário para indicar o sentido oposto, foi escolhida como a sinalização padrão. A Coordenação Geral de Uso Público do ICMBio realizou várias capacitações em diferentes partes do Brasil compartilhando as técnicas. A sinalização padronizada reforça a característica de rede nacional ao mesmo tempo que permite a personalização de cada caminho regional com suas próprias características. A identidade unificada permite aos visitantes perceber que a trilha faz parte de um sistema maior que contribui para a conservação da natureza no país. Além de sinalizar o percurso para guiar os caminhantes a sinalização pode ser empregada em diversos produtos. Souvenirs para os caminhantes e fonte de renda para a população local.
ASPECTOS CULTURAIS E HISTÓRICOS
Muitas das trilhas de longo curso possuem, além da beleza natural, atrativos culturais e históricos. É o caso da Estrada Real que percorre os caminhos utilizados para escoar ouro e diamantes de Minas Gerais até os portos do Rio de Janeiro no período colonial. O Caminho das Araucárias, que iniciou a sinalização recentemente, percorre a rota dos tropeiros que faziam a comercialização de animais no sul do país nos primórdios do século XVIII.
O objetivo é chamar a atenção do público para a história, resgatar o modo de vida, o modo de viajar e, principalmente, as formas de relacionamento das pessoas da época com o meio ambiente. Essa abordagem inspira os visitantes sobre a responsabilidade de proteger nosso patrimônio natural.
PARTICIPAÇÃO SOCIAL
A participação da sociedade nesse processo é muito importante. Desde a pressão para implementação de “linhas tracejadas” nos percursos, passando pelos mutirões de voluntários para sinalizar e estruturar as trilhas e finalmente na construção de grupos que trabalham na manutenção dos caminhos.
“Poder ajudar a cuidar de uma riqueza tão esplêndida, que é a natureza, e saber que isso é de todos, se torna algo extremamente gratificante. É a oportunidade que nós, sociedade, temos para colaborar. É uma sensação de dever cumprido, como um chamado!”, relata Gabriela Naibo, voluntária do Parque Nacional das Araucárias (SC).
SISTEMA BRASILEIRO DE TRILHAS DE LONGO CURSO
Corredor Litorâneo
Mais de 8.000 km passando por mais de 100 unidades de conservação federais, estaduais, municipais e privadas ao longo da costa brasileira.
Estrada Real
Mais de 1.700 km de extensão, passando por Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo seguindo o caminho histórico oficializado pela Coroa Portuguesa no século XVII. Áreas núcleo: Parques Nacionais das Sempre Vivas, Serra do Cipó, Itatiaia e Serra da Bocaina. Saiba mais aqui.
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